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VAT (Vida Além do Trabalho): movimento que luta pelo fim da escala 6×1 realmente pode promover o bem-estar e proporcionar mais tempo livre?

Especialista em Burnout e Médico do Trabalho faz alerta para esse debate e defende que o tempo de descanso seja efetivo para que essa mudança possa trazer benefícios reais

O VAT (Vida Além do Trabalho), um movimento que ganha cada vez mais força nas redes sociais, promete ser uma solução para quem deseja trabalhar menos e descansar mais. O debate sobre a redução da carga horária no trabalho não é novo e ganha novo capítulo com a força da internet. Mas, será que realmente essa mudança pode promover o bem-estar? A resposta não é simples e depende de vários fatores.

O Dr. Marcos Mendanha, médico do trabalho e autor do livro O que ninguém te contou sobre Burnout, publicado pela Editora Mizuno, faz algumas considerações sobre o movimento e a primeira delas é a compressão da demanda de trabalho. “É fato que a redução da carga horária semanal de trabalho pode resultar em mais energia, disposição, produtividade e bem-estar. No entanto, se a diminuição da carga de tarefas não for proporcional aos novos dias de trabalho efetivo, o resultado é inverso, ou seja, produz mais cansaço e estresse”, pondera ele.

O especialista explica que, por exemplo, se a carga semanal estava distribuída para 6 dias e se reduz a jornada de trabalho para 4 dias, mantendo-se a carga de trabalho original, a conta não fecha. “O trabalhador, nesse caso, terá que fazer tudo que fazia em 6 dias, agora em 4 dias. Isso gera sobrecarga de trabalho, um dos fatores que mais promovem Burnout e adoecimentos mentais no contexto ocupacional”, explica Mendanha.

Outro ponto fundamental para a redução da carga de trabalho promover o bem-estar é o uso real dos dias de descanso. O que os trabalhadores brasileiros fariam com esses novos um ou dois dias de folga por semana a longo prazo? Para Mendanha, “essa pergunta importa, pois, nada garante que, por diversas e compreensíveis demandas, novos vínculos profissionais sejam pactuados nesses dias que ficarão ociosos. Isso já foi verificado, por exemplo, na área da saúde, onde os trabalhadores são beneficiados com tempo de descanso maior proporcionado pela chamada “jornada 12×36”. Ocorre que para muitos desses trabalhadores, esse tempo maior para o descanso se torna um estímulo para assumir novos trabalhos. Resultado: se antes o cansaço era por um emprego, agora ele vem por dois ou mais. Esse é um ponto extremamente importante a ser refletido sobre o movimento”, alerta o médico.

Ele ainda completa dizendo que “infelizmente, muitos trabalhadores da saúde já fazem o inverso da jornada originalmente proposta, trabalhando 36 horas e descansando 12, em múltiplos vínculos, o que prejudica enormemente a saúde física e mental dessa população”, finaliza Marcos Mendanha.

O médico do trabalho reforça que qualquer mudança exige preparação e treinamento prévio. Isso porque, ao reduzir a jornada de trabalho, é necessário preparar todos os funcionários para uma mudança significativa. Essa preparação exige reestruturação na carga de trabalho, otimizando os processos com consequente diminuição do tempo exigido para cada um deles. Quando tudo isso acontece de forma eficaz e integrada, os resultados tendem a ser muito positivos.

Sobre Marcos Mendanha

É médico, diretor e professor da Faculdade CENBRAP, onde realiza e coordena estudos, cursos e eventos sobre Psiquiatria e saúde mental do trabalhador há mais de 10 anos. É especialista em Medicina do Trabalho e também em Medicina Legal e Perícia Médica.

É advogado especialista em Direito do Trabalho; pós-graduado em Filosofia; e professor convidado da pós-graduação em Medicina do Trabalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

É autor dos livros “O que ninguém te contou sobre Burnout – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora Mizuno), “Medicina do Trabalho e Perícias Médicas – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora LTr), e “Limbo Previdenciário Trabalhista – Causas, consequências e soluções à luz da jurisprudência comentada” (Editora Mizuno); e coautor de várias obras. É coordenador do Congresso Brasileiro de Psiquiatria Ocupacional (CBPO) e do Congresso Brasileiro de Medicina do Trabalho e Perícias Médicas (CBMTPM).

Informações à imprensa

Xanndi Poletto

 

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