Arquivo da categoria: Histórias de Empresa

Romcy: A maior rede de lojas de departamento que o Ceará já teve

Pedro Paulo Morales
Jornalista Digital

As lojas de varejo Romcy S/A foram uma rede de lojas localizada em Fortaleza/CE com 12 lojas entre hipermercados e supermercados. Dessas, 11 estavam localizadas em Fortaleza, 1 em Maracanaú e uma central de compras em São Paulo. Nas lojas existiam ainda os Romcy-Car, que eram especializados em acessórios e serviços para veículos, além de cinco lanchonetes em suas unidades que faziam muito sucesso e eram ponto de encontro de muitas pessoas. O Grupo Romcy era formado ainda pela Romcy Informática LTDA e a Granjas Romcy S/A.

As atividades comerciais da família Romcy começaram em 1948 com a firma Jacob Elias & Filho, que vendia miudezas. Depois, a empresa passou a ter várias filiais com nomes fantasia diferentes, como A Capital, Magazine Sucesso, Casa Vênus, Romcy Perfumaria, Romcy Magazine, e por fim a Super Loja Romcy.

Em 1962, com a morte de Jacob, as lojas foram unificadas sob a razão social de Romcy Comércio e Indústria S/A e estavam sob a responsabilidade de seus filhos José e Antônio Romcy, que partiram para unificar as atividades do grupo.

Em 1974, o Grupo Romcy comprou uma propriedade que pertenceu ao comerciante Plácido de Carvalho, um imóvel construído em forma de castelo, que estava localizado onde hoje fica a Praça Luiza Távora na Avenida Santos Dumont, visando construir um hipermercado. Porém, o empreendimento foi deslocado para outro local, talvez a esquina da Av. Barão de Studart com a Av. Antônio Sales. Após alguns anos, seu terreno foi dado em pagamento de dívida de ICMS ao Governo do Estado. Uma história curiosa é que muitas pessoas atribuem a falência da empresa à demolição do “Castelo do Outeiro”, como era chamado; a falência teria sido uma espécie de maldição por derrubar um imóvel construído como símbolo do amor entre Plácido de Carvalho e a italiana Maria Pierina Rossi.

Com a inauguração, em 1975, do Romcy Aldeota, uma loja com área de 14 mil m², a empresa passou a investir também em supermercado, quase na mesma época em que se tornou a 1.ª loja de departamentos do Norte e Nordeste a funcionar com computador.

Na década de oitenta, o Canguru (que, segundo se comenta, foi também usado pelo Varejão Supermercados da Família Patriolino Ribeiro), símbolo das lojas Romcy, disputava mercado com as Americanas, Lojas Brasileiras e Mesbla de igual para igual.

O Romcy mantinha um cartão de crédito próprio e, no fim do mês, com a inflação muito alta, comprar no Romcy era praticamente impossível, pois essa loja operava também no ramo de supermercados e vendia tudo no cartão. Na época, se dizia que quem não tinha um crediário no Romcy não tinha crédito na praça.

Em 1990, quando o Romcy pediu concordata, ele mantinha 1.702 funcionários e proporcionava quase 3.000 empregos indiretos e, na época, era também um dos maiores arrecadadores de impostos e um dos grandes empregadores do Estado do Ceará.

A maior rede de lojas de departamento que o Ceará teve escolhia bem a sua localização, tanto que todos os seus endereços estão devidamente ocupados quase 20 anos depois. O Romcy Planalto virou Bompreço Papicu, o Romcy Aldeota (Antônio Sales) virou Hipermercantil e mais tarde foi ocupado pelo Carrefour, o Romcy Montese foi o Hipermercado Extra e hoje é o Atacadão. O Romcy Monte Castelo abriga a matriz do Expresso Guanabara no Ceará, que, a propósito, nunca teve o que reclamar da infraestrutura das instalações (inclusive dotada de uma moderna estação de tratamento de esgoto). No Centro de Fortaleza, suas lojas estão todas ocupadas, às duas na Rua Barão do Rio Branco e a do Parque das Crianças, onde hoje funciona no prédio que faz fundo também com a Praça Murilo Borges (praça do BNB) um Super Lagoa e uma Rabelo (hoje Duarte Magazine). O Romcy Benfica, cuja obra não foi concluída pela empresa, hoje é o bem-sucedido Shopping Benfica. Tantos acertos não foram por acaso; houve estudos muito bem-feitos.

Na propaganda, a empresa também inovou trazendo as propagandas com o Assis Santos quando anunciava as ofertas para o dia seguinte com o slogan “barato do dia Romcy” no intervalo do Jornal Nacional da TV Globo ou os anúncios de páginas inteiras nos jornais, ou com a promoção famosa, inédita e audaciosa “Romcy dá dinheiro vivo”, nos anos 70. Antônio Romcy analisou a conjuntura econômica do país e usou a inteligência para criar a campanha. O raciocínio de Antônio Romcy foi rápido e perspicaz: se era de se pagar 10% às financeiras, por que não estimular a compra a partir de seis prestações e dar esse percentual diretamente ao consumidor? Foi um sucesso!

Em dezembro de 1990, o Romcy pediu concordata preventiva motivada pelos problemas causados pelo Plano Collor, como a inadimplência de seus clientes, o que causou um desequilíbrio financeiro. Porém, seu patrimônio era suficiente para cobrir suas dívidas e ele iniciou a reestruturação de seus negócios com o fechamento de algumas lojas. Também foram noticiadas a venda da empresa para o Grupo Sendas do Rio de Janeiro e Lojas Tamakavy do Grupo Sílvio Santos.

Em 1992, já conseguindo levantar a concordata, planejava a volta ao ramo de supermercados com a reinauguração da loja do Parque das Crianças, o que não foi possível. Porém, o filho de Antônio Romcy inaugura o Supermercado Básico na Rua José Lourenço e no prédio do antigo Romcy do Parque das Crianças, ocupando metade da área que o Romcy ocupava. O novo empreendimento, por questões de mercado, não deu certo.

Em 1993, a empresa, com apenas uma loja em funcionamento, teve a falência decretada, deixando muita saudade. O seu patrimônio imobiliário foi usado para saldar dívidas bancárias, trabalhistas e com fornecedores. Para se ter uma ideia, apenas a loja do Bairro Montese, onde também funcionava a matriz do Grupo, estava avaliada em US$ 10 milhões de dólares.

Sem dúvida, as lojas Romcy deixaram um vazio no mercado cearense por sua importância que tiveram na vida social e econômica do estado.

Fonte: Jornal O Povo, edição de 11/12/1990, pesquisa feita pela Internet e jornais da época.

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Ferrari, o filme: Uma Jornada Inspiradora de Sucesso Empresarial e Paixão pelo Automobilismo

Se você é um entusiasta do automobilismo e se interessa por histórias de sucesso empresarial, recomendo o filme “Ferrari”, dirigido por Michael Mann e estrelado por Adam Driver, Penélope Cruz e Shailene Woodley.

Longe de ser apenas um filme sobre carros, “Ferrari” narra a fascinante jornada de Enzo Ferrari, um homem determinado que enfrentou inúmeras adversidades em sua busca por realizar seus sonhos. Apesar das tragédias pessoais que ocorreram ao longo do caminho, Enzo nunca desistiu de seus objetivos, o que torna sua história profundamente inspiradora para qualquer empreendedor. Continue lendo Ferrari, o filme: Uma Jornada Inspiradora de Sucesso Empresarial e Paixão pelo Automobilismo

O Sonho Interrompido da IBAP: implantar uma indústria automobilística no Brasil

Pedro Paulo Morales para Falando de Gestão

Nelson Fernandes, empresário brasileiro, em 1963, visava produzir um luxuoso carro nacional, o Democrata, na Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), em São Bernardo do Campo, São Paulo.

Fundada em São Bernardo do Campo, a IBAP inicialmente empregava 120 funcionários para concretizar o projeto visionário de Fernandes.

Adquiriu terreno, ergueu galpões e instalou maquinário para desenvolver os cinco primeiros protótipos do Democrata.

O Democrata, luxuoso, com opções de duas ou quatro portas, adotou carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro e motor italiano.

Aliás o único componente estrangeiro foi fornecido pela empresa italiana Procosautom, ligada à Lancia. A IBAP planejava produzir os motores localmente, mas receava retaliações.

A estratégia de capitalização da fábrica, envolvendo a venda de 130 mil certidões de propriedade, atraiu críticas da imprensa, como a revista Quatro Rodas.

A empresa enfrentou críticas da imprensa sobre o Democrata. Levou dois carros em uma carreta pelas cidades para exposição e testes públicos, permitindo a avaliação da qualidade inclusive com a população usando paus e pedras.

Pressões da mídia e falta de apoio governamental levaram ao fim precoce do projeto da IBAP.

Aconselhado por amigos e integrantes do governo, Fernandes dissolveu a sociedade para evitar represálias maiores.

A IBAP produziu apenas cinco veículos, agora preservados em coleções ou pertencentes a pessoas como Nelson Fernandes.

O episódio ilustra a importância de além de boas ideias, considerar ameaças externas, como a falta de apoio governamental e pressões de empresas concorrentes quando se vai implantar um novo negócio.

Foto: Internet Creative Commons

Bibliografia:

ALMEIDA, MICHEL WILLIAN ZIMMERMANN – INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA E PODER

UMA BREVE ANÁLISE DOS CASOS FNM E IBAP, 2014 disponível em https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/475, acessado em 10/03/2024.

SECCO LUIZ CARLOS , IBAP: O SONHO IMPOSSÍVEL DE CONSTRUIR UMA FÁBRICA DE AUTOMÓVEIS NO BRASIL, 2023 disponível em https://www.maxicar.com.br/2023/07/ibap-o-sonho-impossivel-de-construir-uma-fabrica-de-automoveis-no-brasil/ acessado em 10/03/2024.

INDÚSTRIA BRASILEIRA DE AUTOMÓVEIS PRESIDENTE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2023. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ind%C3%BAstria_Brasileira_de_Autom%C3%B3veis_Presidente&oldid=65256707>. Acesso em: 10/03/2024

Henney Quilowatt: uma versão elétrica do famoso Gordine

Por Pedro Paulo Morales

Os carros elétricos sempre foram um sucesso! Mas como surgiram os carros movidos a eletricidade? Será que é uma invenção contemporânea ou o carro elétrico tem mais história do que conhecemos?

As primeiras carruagens elétricas rudimentares surgiram no final das décadas de 1820 e 1830. Já os veículos elétricos práticos e comercialmente disponíveis começaram a emergir na década de 1890. No entanto, no início do século XX, o alto custo, a baixa velocidade máxima e o alcance limitado dos veículos elétricos a bateria resultaram em um declínio global em sua utilização como meios de transporte privados motorizados. Apesar disso, os veículos elétricos ainda encontravam aplicação em equipamentos de carga, transporte e no transporte público, especialmente em veículos ferroviários. Continue lendo Henney Quilowatt: uma versão elétrica do famoso Gordine

A História dos Produtos ODD

Por Pedro Paulo Morales

Você lembra dos produtos de limpeza ODD? Neste artigo escrevo sobre a história de uma empresa que marcou as décadas de 70 e 80 no Brasil com um produto que marcou época.

A Orniex Desinfetantes Domésticos LTDA. foi fundada por volta de 1955 pelo Sr. Juca Carrano com a fábrica localizada no Bairro da Barra Funda em São Paulo.

Seu principal produto era um detergente de lavar louças que levava o nome das iniciais do nome da fábrica, ODD. O Detergente ODD foi um dos primeiros detergentes a ser lançado no mercado brasileiro. Continue lendo A História dos Produtos ODD

A História do Posto de Gasolina: Da Necessidade de Abastecimento aos Complexos Modernos

A História do Posto de Gasolina: Da Necessidade de Abastecimento aos Complexos Modernos

Os postos de gasolina são uma parte essencial da paisagem urbana, mas nem sempre existiram da forma como conhecemos hoje. Sua evolução ao longo do tempo reflete não apenas mudanças na indústria automobilística, mas também nas necessidades e conveniências da sociedade. Vamos explorar como surgiu o conceito de posto de gasolina e como ele se transformou ao longo dos anos.

Início do Século 20: A Era dos Primeiros Automóveis

No início do século 20, com a popularização dos automóveis, os motoristas enfrentavam um desafio significativo: onde abastecer seus veículos? A resposta inicial era surpreendentemente improvisada. Motoristas muitas vezes compravam gasolina em latas em farmácias e armazéns e, em seguida, enchiam seus tanques diretamente do recipiente. Continue lendo A História do Posto de Gasolina: Da Necessidade de Abastecimento aos Complexos Modernos