Inteligência Artificial sem alma humana: um risco calculado para a NR-1 e o bem-estar corporativo
Por João Roncati
O alerta é claro: no Brasil, um estudo da OMS estimou que quase R$ 400 bilhões anuais são perdidos devido a doenças mentais que resultam em baixa produtividade, afastamentos e uma rotatividade de pessoal que prejudica a cultura das empresas.
Em um cenário onde cada dólar investido em saúde mental retorna quatro em ganhos de produtividade e bem-estar, como também aponta a OMS, e onde empresas que negligenciam o tema podem ver seus custos com saúde aumentarem em até 20%, a inação se torna insustentável.
Neste contexto, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma promessa de solução, uma ferramenta capaz de processar dados, identificar padrões e, quem sabe, prever crises. A IA está disponível, é fato. Mas será que ela, por si só, é o que sua empresa realmente precisa para endereçar a complexidade da saúde mental e cumprir as diretrizes da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece as disposições gerais do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO)?
A resposta é um sonoro “não”. A IA, nos estágios atuais é desprovida da inteligência similar a humana, da empatia e da capacidade de interpretação contextual. Por este motivo, pode se tornar uma ferramenta fria e ineficaz, gerando relatórios complexos que pouco ou nada contribuem para a construção de um ambiente de trabalho verdadeiramente saudável e seguro. A IA protagoniza uma excepcional possiblidade de ampliar a capacidade da liderança de atuar com este tema, como extensão analítica e aceleradora da coleta de informações. Portanto, complementarmente ao papel do líder.
A NR-1 exige que as organizações identifiquem perigos, avaliem riscos e implementem medidas de controle. Os riscos psicossociais, cada vez mais evidentes, são parte integrante desse escopo. E a liderança tem um papel insubstituível. Um gestor precisa planejar estrategicamente a integração de qualquer nova ferramenta, e com a IA não é diferente. Antes de implementar sistemas complexos, é fundamental questionar:
1. Qual o real problema em relação à saúde mental e riscos psicossociais?
2. Como a IA pode, especificamente, ajudar a entender e mitigar esses riscos?
3. Quais competências humanas (liderança, empatia, comunicação) é preciso fortalecer para que a IA seja um complemento, e não um substituto, da capacidade de cuidar das pessoas?
Tornar a utilização da IA mais humana significa, antes de tudo, colocar as pessoas no centro da estratégia. É usar a tecnologia para amplificar a capacidade humana de observação, diagnóstico e intervenção, e não para automatizar o descaso.
Uma empresa do ramo alimentício, consciente da pressão em suas linhas de produção, investiu maciçamente em programas de saúde mental. O diferencial? A criação de “agentes de saúde mental”, colaboradores treinados na linha de frente para oferecer escuta ativa, acolhimento e direcionamento, humanizando o suporte no local onde o estresse acontece. A tecnologia pode apoiar no mapeamento de áreas críticas, mas a intervenção é humana.
Da mesma forma, uma instituição financeira, conhecida pelo ambiente de alta pressão, implementou ações de mindfulness corporativo e outras iniciativas focadas no bem-estar. O resultado? Além da melhoria perceptível no clima organizacional, observou-se uma redução na sinistralidade do plano de saúde. A IA poderia identificar correlações, mas a decisão de implementar mindfulness e a forma de engajar os colaboradores partem da sensibilidade e estratégia da gestão.
A construção de um PGR eficaz, em total consonância com a NR-1, demanda um olhar atento aos riscos psicossociais. A IA pode fornecer dados, mas são as lideranças e os especialistas em RH, que desenharão as ações efetivas: programas de conscientização, canais de escuta seguros, treinamento de líderes para identificação precoce de sinais de sofrimento psíquico, e a promoção de uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio e o respeito.
A IA é uma ferramenta poderosa, mas sem a inteligência, a sensibilidade e a visão estratégica humana, ela não passa de um conjunto de algoritmos incapaz de promover a verdadeira mudança cultural necessária para proteger a saúde mental dos trabalhadores e cumprir, em sua plenitude, as exigências da NR-1. O futuro do trabalho saudável e produtivo reside na sinergia entre o potencial tecnológico e a insubstituível capacidade humana de cuidar.
*por João Roncati, CEO da People+Strategy- consultoria brasileira reconhecida e respeitada por seu trabalho estratégico com a alta liderança de grandes companhias. Mais informações em www.peoplestrategy.com.br
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