A Importância do Ato de Empreender
Por Julio Cesar S. Santos
Quais as Principais Diferenças Entre o Administrador e o Empreendedor? Inicialmente Como Se Entendia o Ato de Empreender? Por Que o Empreendedor Deve Considerar as Perspectivas de Mercado e o Anseio Pessoal? Quais as Vantagens e Desvantagens de Ser Empreendedor?
Empreendedor vem do latim imprendere que significa “decidir tarefa difícil e laboriosa”. Tem o mesmo significado da palavra francesa entrepreneur, a qual deu origem a palavra entrepreneurship, que foi traduzida para o português como espírito empreendedor (MAXIMIANO, 2006, p. 1). Mas, inicialmente, empreender era entendido apenas como o ato de criar seu próprio negócio; ou seja, abrir uma empresa – formal ou informal. Aliás, ainda existem autores, como Maximiano (2006), que defendem este ponto de vista. Mas, hoje sabemos que empreender também significa investir em sua carreira profissional.
Dornelas (2012, p. 29) diz que “empreender é criar algo novo e que gere valor financeiro ou social. ” Isto significa que pode ser feito mesmo no cargo que você ocupa em uma organização – pública ou privada. “O empreendimento é um comportamento, não um traço de personalidade e suas bases são o conceito e a teoria e não a intuição” (DRUCKER, 1986, p. 34). Mas uma das melhores definições sobre empreendedorismo foi escrita em 1949 por Joseph Schumpeter. Nela o autor faz uma boa reflexão sobre o espírito empreendedor: “O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais e tecnologias” (SCHUMPETER, 1949, p. 55). Porém, existem outras definições que foram elaboradas com abordagens diferentes, tais como:
- Kirzner (1973) – O empreendedor é alguém que identifica oportunidades, ou seja, tem uma visão clara e positiva da situação atual e estabelece um equilíbrio em meio ao caos e turbulência (apud DORNELAS, 2012).
- Harvard Business School – Empreendedorismo é a habilidade de perceber as novas possibilidades de negócios que se apresentam no mercado. Essa habilidade independe dos recursos e posses que a pessoa empreendedora pode ter (apud DORNELAS, 2012).
- Dornelas (2012) – Este autor faz uma junção dos dois conceitos acima, pois diz que empreendedor é aquele que muda a ordem das coisas, faz e refaz, mas garante que as coisas aconteçam, pois consegue, de forma clara, ter uma noção de como será a empresa no futuro e desta forma consegue antecipar suas ações para garantir sucesso da organização.
Podemos perceber que todas essas definições falam de “identificar oportunidades” e assim podemos dizer que o ato de empreender está diretamente relacionado com identificação, análise e implementação dessas oportunidades, mas também com o ter disposição para correr riscos. O risco é importante para o desenvolvimento, porém ele deve ter alternativas conhecidas para ter o melhor resultado. Logo, o empreendedor é uma pessoa que enxerga uma oportunidade aliada a um sonho – ou a uma ideia – tem coragem para colocá-la em prática e criar um diferencial relacionado ao novo negócio, de projeto social, ou mesmo, de inovação dentro do seu ambiente de trabalho. Sendo assim, pode-se perguntar qual é a importância de empreender? Assim, devemos considerar duas (2) perspectivas: a de mercado e a do anseio pessoal.
No Brasil, os estudos sobre empreendedorismo ganharam intensidade nos anos 1990 e o fator que contribuiu para tal foi a globalização. Enquanto outros países como os Estados Unidos já possuíam vasta experiência neste assunto, no Brasil as grandes empresas tinham a necessidade de aumentar a competitividade, diminuir os custos e se manter no mercado, que foram os fatores geradores da alta taxa de desemprego. Os ex-empregados foram levados a buscar alternativas de sobrevivência como a criação de micro negócios, muitas vezes sem possuir experiência ou conhecimento (DORNELAS, 2012). Ainda em 1986 a comunicação entre computadores, com a interligação da rede NSFNET com à ARPANET, deu origem ao termo INTERNET, que mudou completamente os conceitos de globalização, principalmente quando, em 1990, chegou ao domínio público, despertando interesse de várias pessoas por esta nova forma de se comunicar. Este desperta fez surgir o empreendedor virtual, que muda a forma de ver e pensar em um produto e serviço que agora também pode ser comercializado pela internet, tal comercialização passou a ser chamado de comércio eletrônico (e-commerce) (CAPRON, 2004).
As micro, pequenas e médias empresas são responsáveis por cerca de 50% de Produto Interno Bruto em alguns países, com perspectivas de crescimento dessa tendência. Daí a importância delas para a economia mundial e também do estudo sobre o empreendedorismo para a sociedade. Atualmente, por vontade de melhorar de vida, muitas pessoas se aventuram em um negócio, uma oportunidade ou uma ideia, sem experiência e/ou conhecimento e esses ainda são grandes fatores de falência ou fracasso de boas ideias. Assim, temos que esclarecer que não basta ter uma boa ideia, pois a pessoa empreendedora tem que ter paixão por aquele trabalho, ela transforma o ambiente onde vive utilizando todo recurso disponível de forma criativa e assume riscos e a possibilidade de não dar certo. Diante deste cenário, podemos elencar alguns benefícios sociais e pessoais ao ampliar os conhecimentos e as ações de empreendedorismo:
- Fortalecer as microempresas para não falirem;
- Gerar empregos e renda;
- Desenvolver a economia nacional, tornando-a resistente aos períodos de crises internacionais;
- Proporcionar ferramentas para planejamento do negócio a ser empreendido; e
- Ajudar as pessoas a melhorar de vida e a melhorar o mundo que as rodeia.
Vantagens e Desvantagens de Ser Empreendedor
As vantagens são bastante simples e representam o desejo da grande maioria das pessoas, que são: ter liberdade de criação; poder colocar suas ideias em prática; definir seu próprio horário de trabalho; determinar sua renda; definir aonde quer chegar profissionalmente; e ser sempre desafiado e estimulado pela concorrência. No caso de empreender em sua carreira, a vantagem é ser reconhecido social e profissionalmente pelos seus feitos na organização. Já as desvantagens são: poucas possibilidades de erros, pois isso potencializa o risco de falência; acúmulo de responsabilidade e afastamento social e familiar, algo que é muito intenso no início do negócio, mas que tende uma estabilidade. No caso da carreira dentro de uma organização, a desvantagem é não ter uma promoção ou até ser demitido por não ter sucesso em um projeto ou decisão tomada. Ficou assustado com as desvantagens? Nada de pânico! Nunca se esqueça de que ser empreendedor é saber conviver com riscos constantemente e, além do mais, todas estas desvantagens podem e devem ser tratadas no plano de negócio para que em longo prazo se transformem em vantagens.
MITOS
Alguns autores afirmam que empreender pode ser aprendido. Para eles, é tão possível aprender a ser empreendedor que, após 1999, quando o governo criou o programa Brasil Empreendedor com o objetivo de capacitar mais de um milhão de pessoas, tivemos um crescimento expressivo na abertura de micro e pequenas empresas no Brasil. Também há pessoas, como já citado anteriormente, que, após serem demitidas, usaram suas economias para abrir seu próprio negócio, ainda que, em sua maioria, no mercado informal. O Governo, percebendo esta movimentação de empregados para patrão, criou o programa de empreendedor individual (Lei complementar 128/2008), trazendo essas pessoas da informalidade para a situação de empresários individuas e, desta forma, tornando-os empreendedores e contribuintes, o que melhora a sociedade como um todo. O autor e pesquisador Dornelas (2012) não descarta a existência de empreendedores inatos, mas afirma que é possível ensinar uma pessoa a ser empreendedora. Neste sentido, alerta as escolas para focarem seus ensinamentos em inovação, em como identificar oportunidades, nas habilidades e competências essenciais ao empreendedor, na economia e em fazer um plano de negócios. É possível se ensinar através de modelos de empresas, mostrando como foram criadas. Notou que, no Brasil, apenas em 1990 se iniciou o ensino do empreendedorismo? Dolabela (1999, p. 36) nos mostra que, nos Estados Unidos, isso já acontecia desde 1975 e que, em 1988, em alguns estados era obrigatória a disciplina de empreendedorismo em todos os cursos. Este mesmo autor ainda relata que as empresas buscam profissionais que, além de dominarem suas áreas, tenham o espírito empreendedor. Estas considerações reforçam e servem de base para dizer que nascer empreendedor é um mito e que estas características são aprendidas e durante nossas aulas vamos entender e aprender a ser empreendedor. Principalmente com o advento da internet, que torna as informações disponíveis em qualquer hora e lugar, sem nenhuma distinção ou fronteiras.
O Administrador e o Empreendedor
Em algum momento você pode ter-se perguntado: posso ser empreendedor se eu não administro uma empresa? Pois acredite que sim. Queremos que você perceba que há uma diferença significativa entre o administrador e o empreendedor. O administrador é o profissional que concentra seu trabalho em ações como planejamento, organização, direção e controle das atividades e procedimentos administrativos nas empresas. Costumeiramente, assume cargos gerenciais como gerente de recursos humanos, coordenador ou chefe de setor, supervisor de caixa, entre outros. Sua atuação no trabalho é impessoal e obedece a uma hierarquia e a regras estabelecidas neste ambiente. Dessa forma, o administrador é alguém que possui conhecimentos técnicos e especializados fundamentais para o bom funcionamento das empresas (DORNELAS, 2012).
Sobre a Perspectiva Profissional do Administrador:
Direção é a função na qual o administrador repassa para os funcionários os planos e ações que devem ser desenvolvidas na empresa. Ele estimula a participação e a motivação de todos para a realização das atividades. Já o Controle é a função administrativa na qual o administrador avalia os resultados das atividades, identificando falhas, erros e correções. Assim, o ato de planejar, organizar, dirigir e controlar são funções inerentes ao trabalho do administrador e, estes atos acontecem, na maioria das vezes, de forma interligada nas atividades diárias de uma empresa. Por exemplo, quando o administrador precisa comprar algo para a empresa, ele planeja a quantidade e organiza o processo entre a compra e o recebimento dos produtos, além de dirigir ou orientar outras pessoas para recepcionar e armazenar o produto e depois controlar o uso. Portanto, qualquer pessoa pode ser um empreendedor e também um administrador. Além de ter todas essas atribuições que citamos, ele também pode ser um empreendedor. Mas, para diferenciar as duas coisas, tratemos agora do empreendedor. Para começar, o empreendedor não é impessoal no negócio, pois este faz parte de seu sonho; não se limita às regras da empresa, pois tem a forte tendência para promover mudanças importantes nos processos da empresa; e, às vezes, ele também não possui conhecimentos técnicos de administração, mas possui o hábito de “ver além”. Por ser visionário, o empreendedor se preocupa mais com as questões estratégicas da empresa, com o objetivo de reunir todos os recursos necessários para concretizar o negócio.
REFERÊNCIAS
CAPRON, H. L.; JOHNSON, J. A.. Introdução à informática. 8ª ed. São Paulo: Pearson, 2004. 368p.
DOLABELA, F. Oficina do empreendedor (6a ed.). São Paulo: Cultura, 1999.
DORNELAS, J. C. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DRUCKER, P. O novo papel da administração. São Paulo: Nova Cultural, 1986 (Coleção Harvard de Administração).
MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
SANTOS, Renato Lima dos; SOUZA, Lady Day Pereira de. Empreendedorismo. Universidade Federal do Mato Grosso/Rede e-Tec Brasil, Cuiabá: 2015.
SCHUMPETER, J. A teoria econômica e história empresarial, na mudança e do empresário: postulados e os padrões de história empresarial. Cambridge: Harvard UP, 1949.
https://www.facebook.com/juliocesar.s.santos
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