Por Pedro Paulo Morales

Quatro jovens que moravam nos Estados Unidos resolveram tentar a sorte em outro lugar. Em janeiro de 1929 os amigos John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borge resolvem embarcar para a Argentina em busca de uma oportunidade melhor. O objetivo deles era montar na argentina uma loja que se vende produtos a preços baixos, ao estilo das lojas americanas “Five and Ten Cents” (que vendiam mercadorias a preços que variavam entre 5 e 10 centavos de dólar).

Dentro do navio os jovens americanos que já possuam experiência como vendedores de lojas com o conceito “Five and Ten Cents” e traziam no bolso um capital modesto, mas muita vontade de progredir conheceram o brasileiro Aquino Sales e o austríaco Max Landesman que os convidou para conhecer a cidade do Rio de Janeiro.

Aqui chegando os jovens logo viram que na cidade existia muita oportunidade para a implantação de uma loja que vendesse tudo a preços baixos pois as lojas existentes na época eram muito luxuosas com produtos caros.

Uma das Casas mais famosas no Rio de Janeiro, como eram chamadas as lojas da época, eram as Casas Sloper fundada em 1899 pelo Henry Willmott Slope que se especializou na venda de joias, cristais, roupas, maquiagem, cama e mesa, decoração e brinquedos e que viveu seu apogeu entre os anos 1930 e 1950.

Os amigos logo perceberam que a população do Rio de Janeiro, capital do Brasil nesta época era formada por militares e funcionários públicos que tinham uma estabilidade nos seus empregos, mas recebiam salários modestos e não podiam comprar nas “Casas” luxuosas da época.

Suas lojas são espaçosas e vendem cerca de 60.000 itens

Sendo assim os amigos ao analisarem o mercado perceberam que o Rio de Janeiro era o local ideal para abrir uma loja com o conceito de lojas populares com preços baixos. No dia 2 de maio de 1929 os quatro amigos abriram a primeira unidade das Lojas Americanas no centro de Niterói, estado do Rio de Janeiro com o slogan “Nada além de 2 mil réis”. A inauguração da unidade também trouxe uma novidade, o uso na palavra loja ao invés de “Casa” e o próprio nome “Americanas” ajudaram na popularização do empreendimento. As Lojas Americanas também adotaram uma estratégia interessante de empregar mulheres em suas lojas o que facilitava o relacionamento com as clientes mulheres.

Os negócios deram certo e ao final de um ano de funcionamento a empresa abriu mais duas lojas no Rio de Janeiro e inaugurou uma filial na cidade de São Paulo onde concorria com lojas com o Mappin que era uma das lojas referência da cidade de São Paulo.

Expansão da rede

Em 1940 as Lojas Americanas continuavam expandindo suas operações e para ter um crescimento ainda maior estreou na Bolsa de Valores de São Paulo vendendo suas ações. A partir daí as Lojas Americanas S/A não parou de crescer. As lojas sempre com as mesmas características da primeira, lojas grandes e com muitos itens a venda, as lojas chegam a contar com até 60 mil itens para venda começaram a ser abertas em várias cidades brasileiras, incluindo as principais capitais brasileira e com uma característica particular, os imóveis eram todos próprios. Na década de 80 eram 50 lojas espalhadas pelo Brasil.

O cachorro-quente das Americanas eram famosos pelo seu molho especial.

Uma curiosidade é que em cada uma das lojas havia uma lanchonete para atender os clientes que iam ali fazer suas compras ou até mesmos marcavam encontros. Entre os produtos do cardápio um dos mais famosos era o cachorro-quente com receita especial feita com o molho de tomate com tirinhas de pimentão, tomate e cebola em gomos. Alguns creditam até mesmo a popularização do cachorro-quente no Brasil a esta receita vendida exclusivamente nas Lojas Americanas. Hoje as lanchonetes não existem mais. Outra invenção ligada as Lojas Americanas é a famosa exposição dos ovos de Páscoa em parreira na década de 80 que foi desenvolvida junto com a Lacta. Mais tarde foi desenvolvido também o Túnel de Ovos de Páscoa na frente das lojas.

Era Beto Sucupira

            Na década de 80 as Lojas Americanas estavam estabilizadas no mercado e seus acionistas estavam acomodados na direção da empresa e já não tinham a mesma dedicação com os negócios como antes. A gestão da empresa enfrentava problemas para administrar a operação, seus lucros eram modestos e seus custos e gastos cresciam exponencialmente, porém a empresa apresentava boas perspectivas de lucro desde que fossem corrigidas algumas incorrências na gestão como a construção de uma sede para empresa que teria até mesmo uma quadra de tênis para os executivos.

Nessa época o Banco Garantia administrado por Jorge Paulo Lemann queria desejava expandir seus negócios e elegeu o setor de varejo como um de seus alvos. Com a estratégia definida o banco começou a prospectar empresas no mercado e chegou às Lojas Americanas.

A estratégia usada para comprar a empresa foi a de adquirir no mercado uma quantidade suficiente de ações para que o Banco Garantia pudesse se tornar acionista majoritário da empresa. Ao mesmo tempo que Jorge Paulo Lemann comprava as ações no mercado ele elegeu como representante da operação Carlos Alberto Veiga Sicupira, mais conhecido como Beto Sucupira que começou a vida como vendedor de carros usados e calça jeans. Beto Formou-se em administração de empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além disso, é diplomado na Harvard Business School, nos Estados Unidos. Em 1973, Jorge Paulo Lemann convidou o vendedor de carros para trabalhar na então Corretora Garantia, o empresário havia aberto no Rio de Janeiro, em 1971.

Desde quando Beto recebeu a missão de ser o representante do Banco Garantia na operação das Lojas Americanas ele estudou muito sobre o setor e procurou estudar os concorrentes e as empresas de fora que atuavam no setor.

Ao assumir a operação das Lojas Americanas, Beto Sucupira logo começou a fazer várias mudanças para tornar a empresa mais competitiva e lucrativa. Ao assumir uma das primeiras as ações do empresário foi suspender a construção da nova sede da empresa. O empresário também iniciou uma análise profunda do quadro de funcionários da empresa para conhecer o time, verificar suas carências e demitir aqueles que não se encaixavam nos quadros da empresa. Essa análise fez com que 40 por cento dos funcionários foram demitidos, num total de 6.500 pessoas.

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Beto Sucupira também trouxe para as Lojas Americanas o conceito de Meritocracia que tem como modelo pagar salários abaixo do mercado, mas oferecer bônus por produtividade que poderiam ser salários extras ou bônus semestrais, caso os funcionários batessem suas metas.  Caso os funcionários não batessem as metas eles poderiam ser demitidos.

A meritocracia gerou uma série de ações trabalhistas contra a empresa porque os funcionários da empresa começaram a não concordar com o estilo agressivo e um uma dose de brincadeiras exageradas caso os funcionários não cumprissem as metas, para se ter uma ideia em uma reunião de diretoria Beto Sucupira chegou a demitir mais de 30 diretores que não concordaram com a Cultura do Garantia que é baseada entre outros princípios na gestão de despesas e custos, na valorização do trabalho e na liderança pelo exemplo.

Foi também na gestão de Sucupira que foi criada uma empresa para gerir os imóveis das Americanas. As Americanas venderam os seus pontos próprios essa empresa criada, capitalizando assim suas operações e em contrapartida a São Carlos Empreendimentos Imobiliários passou a receber aluguel das lojas e passou a adquirir outros imóveis, que também são usados para locação. Estimasse que atualmente a empresa possua mais de 3,5 bilhões de reais em imóveis.

Beto Sucupira foi sempre um empresário a frente de seu tempo. Ao mesmo tempo que estudava o setor ele escrevia cartas para outras empresas procurando fazer um Benchmarking com eles. Dentre as poucas cartas respondidas estava uma de Sam Walton dono do Walmart , loja com sede nos Estados Unidos conhecida por atuar mundialmente no ramo de supermercados e lojas de departamentos. Imediatamente Jorge Paulo Lemann e Beto Sucupira ficaram amigos do empresário e passaram a trocar conhecimentos.

Foi desta carta que surgiu entre os anos de 1994 e 1997 que foi feita uma parceria no ramo de supermercados com o Walmart. Essa parceria chegou a ter 23 lojas no Brasil no ramo de supermercado e em algumas lojas forma implantadas a seção de alimentos. Por divergência com os representantes da Walmart a parceria terminou e as lojas foram vendidas ao Grupo Carrefour. É desta experiência que surgiu o hábito que Beto tinha de visitar as lojas para tomar contado com as operações diárias das lojas.

O comercio eletrônico

Site da Americanas.com. Uma das maiores lojas online brasileira, são milhares de produtos em mais de 40 categorias.

Nos anos 2000 as Lojas Americanas iniciaram a expansão de seu comércio eletrônico através de seu site. No começo as vendas eram tímidas, mas com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia as vendas de produtos foi aumentando.

Hoje em dia a Americanas.com é uma das maiores lojas online brasileira, são milhares de produtos em mais de 40 categorias. As compras podem ser feitas tanto pelo site quanto app, e receber o seu produto diretamente em casa ou retirar em uma loja física. Os clientes também podem fazer suas compras nos quiosques da Americanas digitais, que funciona como um compacto das Americanas Express que oferecem basicamente produtos digitais a preço de site.

Atualmente as operações de operação do comercio eletrônico contemplam os sites Submarino que é marca digital referência em livros, games, tecnologia e entretenimento, o Shoptime que oferece produtos de cama, mesa e banho, eletroportáteis, utilidades domésticas e esportes e lazer e o A Marketplace que permite que vendedores realizem vendas nos sites das Lojas Americanas, Submarino e Shoptime.

Hoje o grupo Americanas S.A. união B2W, empresa do comércio eletrônico que operam os sites do grupo, incluindo americanas.com com as Lojas Americanas S.A. operam mais de 1.700 lojas, o tradicional, com área média de 1.500 m² e um catálogo de 60 mil itens, e o Express, com 400 m² e 15 mil itens. O grupo opera também fintech Ame Digital, um aplicativo de carteira digital para pagar compras feitas em lojas da B2W, que reúne empresas como Americanas, Submarino, Shoptime e Sou Barato. O serviço oferece cashback (dinheiro de volta) em produtos selecionados, como também permite pagar boletos (água, gás, luz), fazer recargas de celular e enviar e receber dinheiro entre contas Ame. Em 2022, foi fundada a Americanas Entrega, com soluções para os comerciantes que operam nos marketplaces da companhia.

Americanas e a crise de 2023

Em janeiro de 2023 o mercado foi abalado pela divulgação de um passivo de mais de 40 bilhões de Reais ocasionado por inconsistências contábeis na conta de fornecedores. Na prática é como se a empresa se financia todas as compras de fornecedores e paga-se apenas uma parte desse passivo.As maiores dívidas são com bancos e fornecedores de produtos como chocolates e outros itens que têm mais rotatividade. Existem também pendencias com aluguéis e contas como energia e internet.

Ainda no mês de janeiro a justiça declarou a recuperação judicial do Grupo Americanas com uma dívida total de 43 Bilhões de Reais. Hoje a empresa vale ao preço de mercado pouco menos de R$ 2,5 bilhões de reais

Bibliografia

O PLANO QUE TRANSFORMOU AS LOJAS AMERICANAS EM UM COLOSSO NACIONAL. São Paulo, 24 mar. 2021. Disponível em: https://passoapassoempreendedor.com.br/2021/03/24/o-plano-que-transformou-as-lojas-americanas-em-um-colosso-nacional/ . Acesso em: 12 fev. 2023.

CARLOS Alberto Sicupira: Bilionários. São Paulo, década certa 2020. Disponível em: https://www.suno.com.br/tudo-sobre/carlos-alberto-sicupira/ . Acesso em: 12 fev. 2023.

AMERICANAS é confiável? Confira análise da loja online. São Paulo, 23 dez. 2021. Disponível em: https://flamecontent.com/americanas/ . Acesso em: 12 fev. 2023.

AMERICANAS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2023. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Americanas&oldid=65286933>. Acesso em: 11 fev. 2023.

SITES E BLOGS DA INTERNET. Leitura do Autor, Brasil, ano de 2023.