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Na mira do Simples Nacional, 70% das micro e pequenas já enfrentaram dificuldades em pagar contas
6 de novembro de 2024Para a maioria, a falta de organização é o seu principal erro financeiro, revela pesquisa
Entre setembro e outubro, a Receita Federal notificou 1.121.419 microempreendedores individuais (MEI) e 754.915 micro e pequenas empresas que possuíam dívidas com o Simples Nacional, sob o risco de serem excluídas deste regime de tributação a partir do próximo ano caso não regularizem seus débitos. Esse cenário de inadimplência pode ter forte influência da falta de organização financeira, como mostra uma pesquisa recente feita pelo Ceape Brasil (Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos) para entender como a Educação Financeira está presente entre os microempresários. Segundo o levantamento, 69,7% dos entrevistados afirmam que já tiveram problemas para honrar os compromissos do próprio negócio, o que também inclui pagar os fornecedores ou colaboradores. E, quando isso é possível, as contas da família ficam em segundo plano, como declaram os 29,3% restantes.
“O cenário macroeconômico brasileiro por si só é desafiador para o empreendedor brasileiro. Temos uma taxa de juros ainda em patamar elevado e um crescimento econômico ainda baixo. Mas o principal desafio é o próprio preparo do empresário. Muitas vezes, a pessoa não faz o controle das receitas e despesas e não tem conhecimento básico em finanças para tomar as decisões estratégicas que podem levar à longevidade do negócio ou ao fracasso”, explica Claudia Cisneiros, diretora executiva do CEAPE Brasil, que é especializado na concessão de microcrédito produtivo, ou seja, unindo empréstimo com educação financeira dos tomadores.
Outro dado da pesquisa que chama a atenção é que somente 54,1% dos empreendedores costumam separar as contas pessoais com as da empresa. Do total da amostragem, 5,4% dos entrevistados afirmaram que não veem sentido na separação. Outros 25,2% disseram que às vezes precisam remanejar os recursos pessoais para a empresa e vice-versa, e outros 15,4% observaram que “fazem o que podem”, ou seja, não conseguem ter duas gestões distintas porque as contas não fecham.
Claudia Cisneiros avalia que, em geral, empreendedoras e empreendedores brasileiros já entendem a importância de ter uma boa educação financeira para sustentar um negócio, porém muita coisa ainda é feita de forma desordenada. “Parece clichê, mas o conceito de ‘dar um jeitinho’ é muito presente quando falamos de administração de pequenas empresas. Antes, era mais comum que pessoas não fizessem nenhum balanço diário dos seus gastos e se desesperassem para “fechar a conta” nos últimos dias do mês. Hoje a maioria já entende que é importante fazer esse controle como forma de prevenção, mas descarta o auxílio de um profissional de contabilidade, por exemplo”, diz.
Autocrítica
O diagnóstico da maioria (33,5%) é de que a falta de organização para realizar pagamentos é o seu principal erro financeiro, seguido das condições de pagamentos que não foram avaliadas corretamente (27,7%). 22,7% enfrentaram problemas por “comprar coisas na emoção”, sem avaliar o impacto futuro. O restante (16,1%) apontou que a escolha errada da fonte de pagamento ou financiamento já causou transtorno.
Sobre o controle das receitas versus despesas, os dados obtidos mostram uma situação preocupante: 9,1% dos empreendedores afirmam que controlam tudo de cabeça e outros 7,9% dizem que não usam nenhum controle. Entre aqueles que buscam olhar com mais cuidado o seu caixa, 7% se baseiam nos que seus contadores falam, 14,5% usam planilhas e outros 61,6% utilizam o caderninho para fechar as contas.
A pesquisa foi realizada com 242 micro e pequenos empreendedores clientes do Ceape Brasil. Presente no Maranhão, Pará, Tocantins, Ceará, Piauí, Pernambuco, Alagoas, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul, a instituição conta com 21 mil clientes ativos, ou seja, com empréstimos em andamento. O Ceape é especializado na concessão de microcrédito produtivo, que une empréstimo à educação financeira dos tomadores e já concedeu mais de R$ 7,4 bilhões em crédito, beneficiando cerca de 1,5 milhão de empreendedores, principalmente na região Nordeste.
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